O homem carrega em si todas as questões, mas, carrega ele todas as respostas? Certamente não, se o homem está solitário. Aliás, no homem solitário, a própria questão fica truncada: o homem seria então um absurdo, voltado ao absurdo. Esta é uma das notas firmes de Emmanuel Levinas, o judeu peregrino nascido na Lituânia, formado na escola fenomenológica, discípulo de Husserl e de Heidegger, provado nos campos de concentração de Hitler, e despertado para suas raízes bíblicas raízes ao avesso, postas no firmamento infinito e pondo a peregrinar pelo mundo para além de todo horizonte.
O pensamento de Levinas, enquanto percorre o caminho que retorna da Grécia para Jerusalém, dessintetizando o que é grego e o que é bíblico, torna-se um caminho de libertação do narcisismo e da odisseia sem transcendência, e abre espaço para um novo modo de estar no mundo como missão, responsabilidade, devotamento materno, sacrifício e luta por justiça: Não importa ser, nem privilegiar o verbo ser, importa doar-se e somente então no gesto da doação ser para doar, e transcender-se no próprio bocado de pão doado ao outro que tem fome, ao pobre, ao órfão, à viúva, ao estrangeiro, ao outro que não é eu e que eu reconheço como alguém e como outro.
E ao dar inseparadamente tesouro e coração, viver do jejum e da fome de justiça. Até as veias abertas pelo ouro e para o outro. O sacríficio de si por outros, que Levinas descreve desde a disponibilidade de Abraão até o dilaceramento do Servo de Javé, é o anti-narcisismo e a vocação messiânica num mundo de opressões e de clamores de libertação. Em nossa América Latina, que se bate dramaticamente com a opressão, há urgência de homens marcados pelo signo deste messianismo libertador. Não é afinal, esta a vocação cristã?
O autor tomando o fio condutor da antropologia traz nesta obra a contribuição de Levinas, de seu pensamento fecundado pela esperança, pela dor e pela vocação de minorias votadas ao extermínio na Europa conflituada pela guerra, para um encontro com o pensamento latino americano suscitado pela esperança, pela dor e pela vocação de minorias submetidas em situação de maiorias submetidas em situação de minoridade, votadas ao extermínio pela falta de pão, de reconhecimento e de justiça, pensamento ferido pela guerra desencadeada pela imposição domais forte.
O encontro com Levinas revela convergências surpreendentes: trata-se de começar um novo mundo a partir da chama que ainda fumega, dos olhos do pobre e inocente, que ainda não se apagaram de todo. A contribuição de Levinas está em sua análise fenomenológica, na fundamentação hebraica, na orientação ética do engajamento e do pensamento, na espiritualidade messiânica.
Ano: 1984
Edição: 1ª
Editoras: EST Edições e Vozes
Idioma: Português
Páginas: 488
Papel: Ofício