Trata-se da transcrição paleográfica do códice do século XVIII que revela uma etapa pouco conhecida de nossa história. Este processo de aculturação dos índios surge quando o continente do Rio Grande via-se ás voltas com a invasão parcial de seu território pelos espanhóis. Rio Grande, a capital do continente é invadida e a sede do governo passa a ser Viamão, mudando assim o eixo governamental da administração portuguesa. Com o Tratado de Madri, Gomes Freire de Andrade, comandante das demarcações, determina a vinda de 600 famílias indígenas, que saídas das Missões, migram para Rio Pardo, na Aldeia de São Nicolau.
Em 1757 o comandante das demarcações ordena a fragmentação deste contingente indígena, formando os seguintes aldeamentos: São Nicolau do Jacuí (Cachoeira), Aldeia dos Anjos (Gravataí) e a terceira, permaneceu em Rio Pardo. É justamente sobre o aldeamento da Aldeia dos Anjos que trata este registro, de cento e cinquenta páginas manuscritas, que foi transcrito em ortografia atualizada e conservou os nomes indígenas como aparecem no texto original. Apresenta uma coletânea de cartas, portarias, provisões, instruções, termos e as listas de matrículas dos guaranis vindos de Santo Ângelo, São Miguel Novo, São João, São Borja, São Nicolau e São Miguel Velho. São mais de 2500 índios que foram “rebatizados” como diz Aurélio Porto, recebendo nomes portugueses e passando a confundir-se com os nomes das famílias já existentes no continente.
O leitor sentirá nas imensas listas de “rebatizados” a perda da identidade indígena: quem era Poty passa a chamar-se Miguel de Sousa; quem era Tiripá passa a chamar-se Estanislau Goularte. À perda da identidade associa-se a proibição do uso da língua tupi guarani, tanto para adultos, como para crianças, sob, pena de serem castigados. Completa-se a este cerco a catequese feita através das escolas de meninos e de meninas, onde a reza do terço em português era obrigatório. Vê-se que a pressão da administração portuguesa é positiva ao exigir que o índio torne-se positivo e autossuficiente para progredir; orienta-o para o bom uso do solo, cuidando contra o desmatamento da região, valorizando o trabalho do capataz de estância, do índio que trabalha e é remunerado, pois não é considerado escravo. Todos estes aspectos deste códice e muitos outros, aqui não citados, desenrolam-se nos períodos do governo de José Marcelino de Figueiredo, 1769 a 1780 e de Sebastião Xavier da Veiga Cabral – 1780 a 1801, governadores militares de um continente vasto e despovoado.
Ano: 1990
Edição: 1ª
Editora: EST Edições
Idioma: Português
Páginas: 96
Papel: Ofício