Segundo os autores esta obra pretende fugir de tantos lugares comuns encontrados na extensa bibliografia sobre o assunto, onde a maioria acaba tornando-se um decalque das anteriores. Ela busca ser uma síntese de tantos argumentos, reconhecendo erros de parte a parte, mas, mais que isso, indo a causas mais profundas que seus antecessores não tiveram a coragem de ir. Um dessas causas é a luta pela terra, onde o poder da cobiça, apoiado por políticos e autoridades civis, desenvolveu uma ideologia, tornou manifesto o conflito e armou o braço agressor, e depois, dissimuladamente, arvorou-se a juiz e historiador. É a reflexão sociopolítica.
Outro importante aspecto de pesquisa dos autores refere-se a certa omissão de padres e pastores, que na busca de uma hegemonia religiosa nas colônias apostaram no confronto do tipo “vamos ver como é que fica”. Os autores são claros ao afirmar que, se houvesse por parte das autoridades religiosas uma maior sensibilidade social, a tragédia poderia ter sido evitada, ou pelo menos minimizada. É a análise teológica da questão. Por último, e esta é uma novidade em relação ao episódio ‘mucker’, os autores foram buscar na gênese étnica daqueles imigrantes, razões para ações tão violentas e intransigentes: junto com as levas de pacíficos colonos, chegaram 381 criminosos, expulsos da Alemanha, e que para cá vieram trabalhar, redimir-se e constituir família.
Sua constituição íntima, conflituosa e até irracional, poderia ter influído, duas ou três gerações depois, no comportamento vingativo e intolerante de alguns protagonistas da luta, em ambos os lados. É a análise psicológica dos fatos. Os historiadores são unânimes em declarar que a história dos ‘mucker’ nunca foi bem contada, que ainda faltam pedaços da história a resgatar... Nesta obra, os autores deram um passo importante nesse sentido. Longe de ser um episódio insignificante, como querem alguns historiadores teuto-brasileiros, o conflito dos ‘mucker’ foi uma página importante da história colonial do RS, e que apesar de tantas mortes, destruições e mentiras, pode-se ver, a despeito do drama, a coragem, a determinação e o desejo de implantar um padrão de vida, e construir uma sociedade, cuja realidade hoje honra a todos.
O trabalho traz também algumas entrevistas que os autores fizeram com pessoas moradoras da região do Ferrabraz, com dados bastante reveladores. Mucker, antes de fanático, como querem alguns autores, quer dizer alguém tímido, rigoroso em seus pontos de vista, reclamador ante injustiças sofridas.
Ano: 1996
Edição: 1ª
Editora: EST Edições
Idioma: Português
Páginas: 110
Papel: Ofício