Este estudo focaliza o surgimento de um museu histórico de cidade, o Museu de Porto Alegre, enfatizando a formação inicial de seu acervo. Por um lado, são abordadas as intersecções entre a história do museu e a conformação como patrimônio da sociedade porto alegrense de uma casa construída no século XIX, e por outro, analisa-se o processo de transformação de objetos comuns em peças de museu, a partir de um determinado conjunto de doações.
A pesquisa abrange basicamente as décadas de 70 e 80 e tenta analisar as representações e práticas envolvidas nesses dois processos. Com o recurso da história oral são coletados depoimentos de funcionários, diretores, reconstituindo-se os discursos referentes ao passado da cidade, ao museu e à história que o mesmo deveria veicular em seus espaços. Observam-se as relações presentes no interior de um campo de especialistas, encarregados da tarefa de escolha dos objetos a serem conservados, e as visões de mundo de um grupo de doadores, que expressam uma relação simbólica com os objetos doados.
Identifica-se nesses relatos representações de museu guardião, museu memória, museu histórico, museu de história e museu da cidade. Os conflitos entre as mesmas caracteriza o museu como um espaço de luta material e simbólica em torno da definição do que deve ser preservado para as futuras gerações.