No romance cabe muita coisa. Entre as cargas mais nobres que ele pode carregar, está a reflexão enviesada sobre a história.
Aqui temos um caso exemplar do enlaçamento entre ficção e vida real: Porque os ponchos são negros repassa o período da ditadura militar iniciada em 1964, ferida ainda aberta na vida brasileira que, para ser curada, precisa do ar puro da democracia e do vento da ficção profunda.
Quem nos conta a história é o próprio personagem central. Em sua vida cabe uma origem humilde, em algum canto remoto do Rio Grande do Sul, mas também cabe a formação universitária nos anos de chumbo, período em que ele se envolve com o pensamento crítico e, por isso mesmo, ele entra em luta espiritual com o horizonte estreito que se impôs. Não era um militante típico das organizações de esquerda , mas sofreu a prisão, a tortura, a humilhação e a fuga redentora, que o levou a um destino provisório inesperado, a vida como peão de uma fazenda distante.
Fala mencionar um dado que põe tudo isso em movimento: um amor, que começa na inocência, passa pelo horror e alcança a dura maturidade.
Movimento lento, poético (de fato: o narrador é também praticamente de poesia, lugar de memória e de digestão da experiência), sinuoso, conduzido com segurança e talento do autor.
Ano: 2012
Edição: 1ª
Editoras: LetraeVida e Editora da Cidade
Idioma: Português
Páginas: 272
Papel: Ofício